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Boletim Carvalhaes: Fundamentos indicam quadro preocupante para abastecimento global de café

Boletim Carvalhaes: Fundamentos indicam quadro preocupante para abastecimento global de café

POR EQUIPE CAFÉPOINT

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Boletim semanal Escritório Carvalhaes - ano 89 - n° 37
Se quiser consultar boletins anteriores, clique aqui e confira o histórico no site*
Santos, sexta-feira, 23 de setembro de 2022

As cotações do café na ICE Futures US e do dólar frente ao real oscilaram muito esta semana. Os contratos de café em Nova Iorque continuam sem rumo e sob o comando dos interesses de curto prazo. Hoje, em um dia com aversão global ao risco, os mercados desabaram e a moeda americana disparou. O Ibovespa caiu 2,06%, as ações da Petrobrás recuaram 7,06% e o petróleo fechou em queda de 5,02%, recuando a uma nova mínima desde janeiro. O dólar subiu 2,64%, fechando a semana a R$ 5,2490.

Os contratos de café para dezembro próximo na ICE, em Nova Iorque, fecharam hoje em queda de 310 pontos, a US$ 2,2045 por libra peso. Ontem apresentaram ganhos de 225 pontos. Anteontem trabalharam em queda e recuaram 385 pontos. Na terça-feira subiram 405 pontos. Na segunda-feira, esses contratos subiram 600 pontos. No balanço da semana, apresentaram alta de 535 pontos. Na semana passada somaram queda de 1.340 pontos, e encerraram a sexta-feira a US$ 2,1510 por libra peso.

Em nossa opinião, os fundamentos permanecem indicando um quadro difícil e preocupante para o abastecimento global de café. Já não existem dúvidas de que a quebra na safra brasileira de café 2022/2023 foi maior do que a inicialmente projetada por agrônomos, produtores e cooperativas. O lento movimento de chegada de lotes da nova safra aos armazéns é inédito. Os problemas climáticos se repetem em outros importantes países produtores na atual crise climática global.

A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) divulgou na terça-feira sua terceira estimativa da atual safra brasileira de café 2022/2023. Segundo a Conab, os produtores brasileiros de café colheram 50,38 milhões de sacas nesta safra 2022. O volume estimado representa aumento de 5,6% em comparação à colheita de 2021. Para o café arábica, a Conab espera uma produção de 32,41 milhões de sacas, acréscimo de 3,1% em comparação com a safra anterior. No caso do conilon, a Companhia projeta um novo recorde de produção, estimado em um volume próximo a 18 milhões de sacas beneficiadas do produto. Acréscimo de 10,3% em relação à safra anterior. Como precisaremos, no mínimo, de 22 milhões de sacas para abastecer o consumo interno brasileiro, restarão pouco mais de 28 milhões de sacas para atender os compromissos brasileiros nas exportações deste ano-safra.

Hoje, em uma entrevista à agência de notícias Reuters, o diretor de Informações Agropecuárias e Políticas Agrícolas da Conab, Sérgio De Zen, disse que as estimativas oficiais da safra de café do Brasil precisam ser melhoradas para espelhar com mais exatidão a realidade no maior produtor e exportador global do produto, uma vez que as informações publicadas pelo governo apontam colheitas tão baixas que não poderiam fazer frente ao consumo e exportações registrados.

Neste contexto, a Conab está em processo de revisão de números e metodologias, buscando formas mais acuradas de obter dados para seus levantamentos, revelou Sérgio De Zen.

A rara afirmação de uma autoridade admitindo problemas históricos nas estimativas oficiais de café foi feita enquanto De Zen comentava números compilados pela Reuters de exportação, consumo interno e estimativas de safras dos últimos anos, que indicam que o quadro de oferta e demanda não fecha ao se confrontar os dados.

"Temos feito conversas com cooperativas, produtores e exportadores para convencê-los de que precisamos trabalhar juntos para chegar em uma estatística mais próxima da realidade", disse De Zen (fonte: site “Notícias Agrícolas” /Reuters). Veja a matéria do “Notícias Agrícolas” no clipping de nosso site. Em nossa opinião, essa revisão de “números e metodologias” é necessária e deveria ser feita com rapidez.

Os estoques de café certificado na ICE Futures US, em Nova Iorque, caíram hoje mais 13.402 sacas. Encerraram o dia e a semana em 472.006 sacas, apenas 22% do total de um ano atrás, quando somavam 2.125.990 sacas. Caíram, neste período, 1.653.984 sacas.

Como temos repetido há várias semanas, as cotações do café na ICE, em Nova Iorque, não refletem a realidade dos preços no mercado físico mundial. Cafés novos, no padrão exigido para serem certificados nessa bolsa, valem bem mais do que o cotado em seu pregão. No mercado cambial brasileiro, o dólar oscilou forte por toda a semana. Hoje, fechou em alta de 2,64%, a R$ 5,2490. Na sexta-feira passada, fechou a semana valendo R$ 5,2600. Na sexta-feira anterior, encerrou a semana a R$ 5,1480.

Em reais por saca, os contratos de café para dezembro próximo na ICE fecharam, hoje, a R$ 1.530,67. Ontem, fecharam a R$ 1.512,27. Na sexta-feira passada fecharam valendo R$ 1.496,65. Na sexta-feira anterior, dia 9, fecharam a R$ 1.556,03.

No mercado físico brasileiro, as bases das ofertas oscilaram ao longo dos dias acompanhando as cotações na ICE em Nova Iorque e do dólar frente ao real. Não aparecem muitos vendedores nas bases de preços oferecidas pelos compradores. As vendas concretizadas são sempre lotes de produtores que precisam de “caixa” para cumprir compromissos que estão vencendo. O total de vendas permanece abaixo do usual para esta época de início de ano-safra.

O mês de setembro está chegando ao final e as entregas dos lotes das vendas físicas para entrega futura estão terminando. Essas entregas deram grandes prejuízos aos cafeicultores brasileiros.

Até dia 23, os embarques de setembro estavam em 1.482.779 sacas de café arábica, 59.818 sacas de café conilon, mais 131.692 sacas de café solúvel, totalizando 1.674.289 sacas embarcadas, contra 1.326.497 sacas no mesmo dia de agosto. Até o mesmo dia 23, os pedidos de emissão de certificados de origem para embarque em setembro totalizavam 2.525.062 sacas, contra 1.893.929 sacas no mesmo dia do mês anterior.

*CAFÉPOINT

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Marcos Remis dos Santos 
(Marcão)