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Manejo com fogo aumenta diversidade funcional e fixação de carbono nas savanas

Manejo com fogo aumenta diversidade funcional e fixação de carbono nas savanas

Estudo da Unesp mensurou a quantidade de espécies e seus atributos, bem como a dinâmica do carbono em duas áreas distintas do Cerrado: uma submetida a queimadas regulares e outra que ficou 16 anos sem queima.

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As gramíneas que compõem as savanas tropicais evoluíram há cerca de 8 milhões de anos, na presença do fogo, muito antes do surgimento da espécie humana no planeta. E o fogo continua a ser um importante fator evolutivo nesse tipo de bioma.

O tema, que vem sendo esmiuçado por várias reportagens da Agência FAPESP** desde 2017, recebeu agora um expressivo aporte com novo estudo coordenado pela ecóloga Alessandra Fidelis, professora do Instituto de Biociências da Universidade Estadual Paulista (IB-Unesp) em Rio Claro e coordenadora do projeto "Como a época do fogo afeta a vegetação do Cerrado". Artigo a respeito foi publicado na revista Science of The Total Environment.

“Verificamos que o fogo promove a diversidade funcional devido às estratégias de regeneração das plantas depois das queimadas. E também contribui para a fixação de carbono no solo e no subsolo”, diz Fidelis à Agência FAPESP.

Para determinar como o fogo interfere nos processos que ocorrem nas savanas, a pesquisadora e suas colaboradoras mediram diversos parâmetros em duas áreas distintas do Cerrado: uma que pega fogo frequentemente e estava recém-queimada e outra que se encontrava já há 16 anos sem queimar. “Enfocamos especificamente duas características dessas áreas: a diversidade funcional da vegetação e a dinâmica de carbono”, conta.

O conceito de “diversidade funcional” é diferente do conceito de “biodiversidade”, pois engloba não apenas a quantidade de espécies distintas, mas também os vários atributos de cada espécie, que estão relacionados à sua função em determinado ambiente. No caso, foram medidos tanto o número de espécies como os diversos parâmetros de cada uma delas: altura, diâmetro da raiz, área foliar etc. Esses parâmetros determinam diferentes funções que a mesma espécie pode desempenhar no ecossistema. Por exemplo, se a área foliar de um arbusto aumenta, isso possibilita que ele abrigue maior número de plantas rasteiras à sua sombra.

“Em relação a isso, é importante informar que as duas áreas que estudamos são regiões de Cerrado mais aberto, que já perdeu parte de sua biodiversidade. É o que chamamos de ‘campo sujo’, no qual o estrato herbáceo é mais importante do que o estrato lenhoso”, comenta Fidelis.

Biomassa subterrânea

Quanto à dinâmica do carbono, o estudo desmentiu o pensamento corrente de que o fogo faz a savana perder carbono para a atmosfera, contribuindo assim para o aquecimento global. “Na verdade, o carbono emitido é rapidamente recuperado pelo rebrotamento das plantas, com aumento da biomassa viva e, principalmente, da biomassa subterrânea, formada pela rede de raízes. Áreas que ficam muito tempo sem pegar fogo começam a perder biomassa subterrânea”, informa a pesquisadora.

O estudo mensurou os estoques de carbono das duas áreas, tanto o carbono fixado na biomassa, quanto o carbono fixado no solo em função da decomposição das folhas, galhos, caules e raízes. “Medimos o que estava acima do solo e o que estava até 20 centímetros abaixo.”

Vale enfatizar que as savanas e as florestas tropicais são realidades muito diferentes. Uma queimada de grandes proporções tem efeito desastroso na Floresta Amazônica, levando à perda de biodiversidade e, no limite, ao colapso de toda a área afetada. Além do impacto sobre o clima regional e global. Já no Cerrado, o uso criterioso do fogo, com rotação das áreas queimadas e queima na época certa, é uma técnica de manejo altamente desejável. “Nosso estudo comprovou que a exclusão do fogo leva a perdas de carbono e diversidade funcional do solo”, conclui Fidelis.

*O artigo Fire promotes functional plant diversity and modifies soil carbon dynamics in tropical savanna pode ser acessado em www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0048969721073939?dgcid=author.

**Agência Fapesp

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Colunistas

          

 
 
Marcos Remis dos Santos 
(Marcão)